
Violência, abandono familiar, acidentes no transito, estes são apenas alguns dos males sociais do alcoolismo
O alcoolismo no Brasil atinge um quadro alarmante, pois cada vez mais cedo o adolescente começa a beber. A falta de uma orientação adequada para os pais reflete em fatores sociais como: aumento de acidentes no transito, violência doméstica e o abandono familiar devido à vergonha que essa doença causa. No Brasil muitos estudos já foram realizados a respeitos desse assunto, mas muito pouco se faz para ter um resultado efetivo. As campanhas públicas não causam o impacto necessário e as leis são complacentes, mesmo as mais rigorosas, acabam por serem dribladas e em muitos casos ignoradas.
Entre os diversos fatores que prejudicam o controle do consumo excessivo de álcool entre jovem estão as campanhas publicitárias com diversos tipos apelo,desde o status social até o comportamento do artista da moda, existem também causas familiares como a violência e o abuso dentro dos lares, o incentivo de amigos e parentes em festas e eventos sociais.O decreto 6.117 de 22 de maio de 2007, prevê fiscalização das propagandas de incentivo ao consumo de álcool e reforça o incentivo às campanhas que sensibilizam a sociedade sobre os danos causados pelo alcool, a fim de prevenir e conscientizar contra os males que a bebida causa. Ainda assim, em consulta feita pela Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (VIGITEL), pesquisas mostram que o consumo de álcool aumentou quase 3% em dois anos passando de 16,1%, em 2006, para 19%, em 2008. O mais preocupante nessa pesquisa foi o aumento do consumo entre as mulheres que cresceu de 8,1% em 2006 para 10,5% 2008. Essa mesma pesquisa coloca a cidade de Salvador com a capital que mais consumia álcool em 2008 e Curitiba como a capital com menor índice de consumo.Então o que fazer?
Conscientizar somente não está mais adiantando, proibir maior vinculação de propaganda de bebida alcoólica mídia também não obteve o resultado esperado, alegar que a culpa é da educação,também não faz sentido. A pesquisa da VIGITEL, mostrou que o maior índice de consumo de álcool é entre pessoas mais escolarizadas, colocar culpa no meio social em que a pessoa esta inserida, seria afirmar que individuos de uma determinada classe socia têm maior propensão ou estão mais propensos ao vicio do álcool. Medidas paliativas foram tomadas, com leis, proibição de incentivo ao consumo, mas parece que a punição - última ferramenta contra tudo que esta gerando o mal - ainda vai demorar. Puni-se quem consome, puni-se quem vende, puni-se quem vitimiza, mas não se pune quem cria uma propaganda incentivando o consumo de álcool.
Em meio a tantas discussões sobre o que deve ser feito para melhor controlar o consumo do álcool pelo adolescente, nenhuma campanha com apelo chocante, ou mesmo projetos de incentivo a educação familiar mais específica tem sido feito. O álcool ainda é tratado de maneira simplória se for analisar todo o prejuízo social, econômico e moral que ele gera dentro e fora dos lares maringaense.
Alcoolismo local
O consumo de álcool em Maringá vinha sendo amplamente combatido através da lei seca, que proíbe a venda de bebidas alcóolicas em até 150 metros de instituições de ensino superior. Mas houve um relaxamento da lei, permitindo a venda da bebida, mas não consumo dentro do estabelecimento o que fica na mesma, esse aspecto negativo levou em conta o protesto feito tanto por estudantes quanto por comerciantes que se viram ignorados, ou mesmo prejudicados em seu comercio. Qual a vantagem então de se fazer algo que não dure como essa lei, já que relaxamento foi uma maneira de driblar mais uma vez possíveis soluções para um mal cada vez maior em Maringá, o do consumo excessivo de bebidas alcoólicas.
Maringá registrou no ano de 2009 um total de 320 apreensões de carteiras de habilitação (CNH), por direção alcoolizada, por parte da Policia Militar(PM), como parte do combate ao consumo de álcool nas imediações acadêmicas. O projeto de lei número 11.092, criado em dezembro de 2008, causa muita polêmica, gera muitas debates a respeito do assunto. De um lado o Sindicato dos Hotéis, Restaurantes Bares e Similares (Sindihotel), que considera inconstitucional essa lei porque prejudica o comércio, do outro, as diversas opiniões de cidadãos, que tanto concordam como discordam dessa medida aprovada pela Câmara de Vereadores de Maringá.
Na região o consumo de álcool gera 10% das ocorrências atendidas pela PM, de um total de 1,2 mil, entre as mais variadas causas podemos citar violência doméstica, acidentes de trânsito como as mais preocupantes. Esse consumo desregrado de álcool pode levar ao contato com outras drogas como o crack a cocaína entre outras, aumentando assim outra estatística da região maringaense, violência publica, a vadiagem e o tráfico.
Segundo o Coordenador do grupo Alcoólicos Anônimos (A.A.), em Marialva, Wilson Alves Sena, os alcoólatras assumem o risco sozinhos no momento do consumo, pois percebem o vício somente quando essa dependência começa a prejudicar dentro de casa e financeiramente. A família então se torna tão dependente do vicio quanto ele, pois a vergonha que a doença causa para alcoólatra só vai existir quando ele for atrás de um tratamento. Quem está próximo tem que suportar situações humilhantes impostas por ele e por terceiros, que ridicularizam a situação, em lugar de mostrarem alguma solidariedade.
Ele também ressalta que essa indiferença social com relação a qualquer tipo de vício só acaba quando a pessoa tem o problema dentro ou próximo de sua vida. “O silêncio gera uma situação de comodismo, já que não acontece comigo eu não tenho que me preocupar”, explica. Todo esse contexto dificulta ações mais localizadas dentro de uma comunidade porque quem sofre desse mal sente receio em procurar de ajuda, principalmente no caso das mulheres que temem causar humilhação tanto para os filhos quanto pais, no caso de adolescentes. Wilson esclarece que no período de sua dependência recuperar a família foi um fator determinante para buscar ajuda porque a família é a única referência de moral que o dependente tem nesse momento. Os amigos de verdade, segundo ele, são poucos e até eles falham.
Dentro de uma realidade tão pouco favorável para o jovem, que se tornou o argumento e também a vítima nesse debate, enquanto se discute o melhor local para se consumir álcool, foi esquecido um aspecto mais significativo, o papel da família, que ainda não faz parte dessa discussão.
SAIBA QUE
• De acordo com a última pesquisa realizada pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID) entre estudantes do 1º e 2º graus de dez capitais brasileiras, as bebidas alcoólicas são consumidas por mais de 65% dos entrevistados, estando bem à frente do tabaco. Dentre esses, 50% iniciaram o uso entre os 10 e 12 anos de idade. Em resposta a estes dados, a venda de álcool a menores de 16 anos está ou estará proibida nestas cidades;
• O Brasil detém o primeiro lugar do mundo no consumo de destilados de cachaça e é o quinto maior produtor de cerveja da qual, só a Ambev, produz 35 milhões de garrafas por dia;
• 42% dos homens que fazem uso pesado de bebida alcoólica (cinco doses ou mais) começaram a beber antes dos 18 anos. Entre as mulheres o consumo pesado é de quatro doses. A faixa que mais consome tem entre 18 e 44 anos de idade e aquelas que não eram casadas, ou seja, separadas, divorciadas, viúvas ou solteiras, foram as que mais fizeram uso do álcool neste padrão;
• Alcoolismo é a terceira doença que mais mata no mundo;
• O abuso do álcool causa 350 doenças físicas e psíquicas;
• O álcool pode afetar o desejo sexual e levar a impotência por danos causados nos nervos ligados a ereção. Nas mulheres o álcool pode afetar a produção hormonal feminina, levando diminuição da menstruação, infertilidade e afetando as características sexuais femininas;
• 90% das internações em hospitais psiquiátricos por dependência de drogas acontecem devido ao álcool;
• Em geral, o fígado leva uma hora para processar 30 gramas de álcool (uma latinha de cerveja).
Acadêmico Emir J. S. Bezerra